segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Resenha: "Fernão Capelo Gaivota" (Richard Bach, 1970)

Record (2004): 78 páginas
"No que interessa à maioria, o importante não é voar, mas comer. Para essa gaivota, porém, o que importava não era a comida, mas o vôo. Mais do que qualquer outra coisa, Fernão Capelo Gaivota adorava voar."

Obra lida na minha juventude, leitura obrigatória exigida na escola. História curta, que não demandou muito do meu tempo de menina que achava que a vida adulta era algo distante, bem distante da realidade do momento. Lembro que fiquei impressionada com a mensagem, embora não conseguisse compreender tudo o que o autor esperava passar. Acabei lendo outras obras dele que atiçarem essa minha busca pelo meu melhor. A apresentação da ideia que nossa visão era limitada e que há muito mais a aprender e compreender do que pensamos e estamos dispostos a fazer.

Mais tarde, reencontrei esta obra, mas no filme cuja trilha sonora é fantástica. Neste momento, não era mais tão menina, estava conhecendo o amor e este foi o presente que eu guardei no coração dessa experiência. O filme e a música me encantaram, o que me surpreendeu considerando que era um filme sobre gaivotas! Tal qual o livro! O diretor conseguiu, majestosamente levar a ideia do livro para as telas. Obviamente a trilha sonora ajudou muito, pois ouvindo-a que eu senti pela primeira vez a ideia de Deus.
Fernão Capelo Gaivota é a história do que somos, do que buscamos e do que desejamos encontrar em nossas vidas: um sentido muito maior do que o mero sobreviver.

Richard Bach foi piloto da Força Aérea Americana. Após deixar este ofício, passou a dedicar-se à carreira literária. Seu primeiro sucesso, que não foi superado pelas demais obras, foi o presente livro que ora resenhamos. Diga-se de passagem que foi recusado por diversas editoras antes de ser publicado. Sendo piloto, a referência por vôos é inevitável, e muito presente em suas outras obras.

Diz o autor que ouviu uma voz, quando pensava na vida, que lhe contava a história de uma gaivota que queria voar mais alto e mais rápido. E foi esta história que ele resolveu ouvir e escrever, chegando ao produto final que ora lhe apresentamos, prezado leitor.
Richard Bach (1936 - ... )
O livro do Fernão é dividido em três partes. Num primeiro momento, conheceremos nosso personagem e sua relação conflituosa com o bando de gaivotas. Insurgente, não aceita uma vida que seja voltada exclusivamente para a busca de alimentos. O prazer de aprender a voar e superar as limitações que parecem fazer parte da sua condição de gaivota o fazem destoar dos demais.


"- Quem é mais responsável do que uma gaivota que descobre e segue um significado, uma finalidade mais alta para a vida? Há milhares de anos, vivemos nos engalfinhando por cabeças de peixe, mas agora temos uma razão para viver... para aprender, para descobrir, para sermos livres! Dêem-me uma oportunidade, deixem que eu lhes mostre o que descobri..."

Filme - 1973
No segundo momento da obra, encontraremos Fernão amadurecido, aprendendo muito mais do que esperava. Descobrindo-se em outros planos e tendo contato com outras gaivotas que o levaram a perceber que sua aprendizagem ainda era incipiente, mas acima de tudo estavam dispostos a saciar sua gana. E nessa busca ele vai refletindo e nos mostrando uma compreensão cada vez maior do que significa aprender a voar.
"- Você começará a tocar o céu, Fernão, no momento em que tocar a velocidade perfeita. E isso não significa voar a mil quilômetros por hora, ou um milhão, ou à velocidade da luz. Isso porque todo número é um limite e a perfeição não tem limites. A velocidade perfeita, meu filho, é estar lá."

Quando decide voltar, teremos a última parte do livro. O retorno ao lar, com alunos, sofrendo a discriminação do bando que ainda repudia tais ousadias. Mas Fernão não é mais a mesma gaivota que foi banida no começo da história. Ele detém um conhecimento sobre vôo muito maior do que sonhara e, acima de tudo, compreende que é no exercício do amor que ele encontra sentido nas exaustivas aulas e treinos para alcançar o tão sonhado vôo perfeito.

"A gente não ama o ódio e maldade, claro. A gente tem que praticar e ver a gaivota autêntica, o bem em todas elas, e ajudá-las a vê-lo em si mesmas. Foi isso o que eu quis dizer com amor. E é divertido quando a gente pega o jeito da coisa".

Neil Diamond (trilha sonora do filme)
Trata-se de alegoria da esperança, espiritualidade, poder de superação e amor. Sem dúvida uma leitura de vários momentos, a cada fase da vida, com novas descobertas. Eis uma obra que me acompanha e reflete a cada momento a mensagem de que viver é muito mais do que sobreviver.

Não gosto muito de sugerir filmes se estou fazendo resenhas de livros. Contudo, nesta obra em específico, a trilha sonora do filme é de encantar a quem tenha lido e se emocionado. Acredite, um filme sobre gaivotas, e não mais do que gaivotas, não é algo que podemos acreditar que possa prender nossa atenção. Mas a maestria do diretor e a música (prestem atenção na letra), conseguiram, para mim, captar o que a leitura de Fernão Capelo Gaivota significou em tão tenra idade.

Minha sugestão para depois da leitura, claro!

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